sábado, 31 de julho de 2010

Indíce de obesidade mórbida cresce e só na Bahia já são 90 mil




Gastrectomia Vertical, técnica que consiste na retirada de até 80% do estômago do paciente, pode ser indicada para pessoas com mais de 40 quilos acima do peso corporal ideal




A obesidade é um dos maiores problemas de saúde da atualidade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade já atinge mais de 400 milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde, pelo menos 3,5 milhões de pessoas estão em estado de obesidade mórbida, ou seja, estão com pelo menos 40 quilos acima do peso corporal ideal. Na Bahia há 90 mil obesos mórbidos. De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde, as soteropolitanas são maioria entre as obesas da região do Nordeste, representando 13,7% no ranking das capitais do Nordeste. Já entre os homens, o índice de obesos coloca Salvador no sétimo lugar entre as capitais do nordeste, com 10,9%.
A população está cada vez mais sedentária e, com isso, crescem os números da obesidade e a preocupação dos profissionais de saúde em combatê-la e, conseqüentemente, em prevenir as diversas disfunções causadas pelo excesso de peso. Pessoas com obesidade mórbida têm grandes chances de morte provocada por diabetes, infarto, hipertensão, derrame e síndrome metabólica, entre outras patologias. Quando dietas, exercícios físicos e tratamentos mais “convencionais” não podem ser aplicados para tratar o problema, muitas vezes é necessário recorrer a uma cirurgia bariátrica, cada vez mais popularizada.
Entre as várias técnicas possíveis de serem aplicadas em uma cirurgia desse tipo, está a Gastrectomia Vertical, que acaba de ser regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e em breve deverá estar sendo liberada pelo Sistema Único de Saúde. “Agora é apenas uma questão de tempo, para os trâmites legais”, ressalta o médico cirurgião do aparelho digestivo, João Ettinger. Seu objetivo é diminuir o apetite e restringir a ingestão de alimentos sem, contudo, causar a disabsorção de nutrientes e vitaminas pelo corpo humano. “Para o controle do peso em pessoas obesas, o procedimento traz vantagens como o fato de ser mais fisiológica do que outros, já que permite que o alimento ingerido faça seu trajeto convencional pelo tubo digestivo”, explica o médico.
Ele explica também que a cirurgia consiste na retirada de uma grande parte do estômago (até 80% do órgão), deixando-o com uma forma tubular e com uma capacidade de armazenamento menor. “Com o corte, o hormônio chamado grelina é impedido de ser liberado na corrente sanguínea, o que faz diminuir o apetite do paciente. Além disso, por não haver costuras entre o estômago e o intestino delgado, diminuem os riscos de infecções”, diz Ettinger. E completa: “Além de menor agressão metabólica, outra vantagem da cirurgia é o tempo operatório menor”.
A Gastrectomia Vertical é recomendada para pacientes muito pesados com condições operatórias adversas, tais como dificuldade de visualização dos órgãos durante a operação, excessiva gordura visceral, fígado grande, aderências intensas ou instabilidade clínica. Também é indicada para pacientes obesos mórbidos idosos ou de alto risco e indivíduos com doença intestinal inflamatória, doença celíaca, anemia intensa e cirrose hepática.
“Podemos, ainda, sugerir o procedimento como cirurgia revisional em pessoas que não tiveram sucesso no procedimento de implantação da banda gástrica ajustável. Este nada mais é do que um dispositivo feito de silicone em formato de anel posicionado na porção superior do estômago com o objetivo de ‘criar’ um novo estômago com cerca de 30 ml, o que faz com que o paciente tenha uma capacidade de armazenamento muito menor, causando uma sensação de saciedade precoce”, afirma o cirurgião. A novidade também pode ser implementada em algumas pessoas como a primeira etapa de outras técnicas de cirurgia bariátrica, tais como a derivação gástrica ou biliopancreática (cirurgia em dois tempos).
A Gastrectomia Vertical é contra-indicada em pacientes com refluxogastroesofágico e hérnia hiatal, pacientes submetidos à gastrectomia, distúrbio alimentar severo (compulsão) ou doença psiquiátrica grave. “Como um segmento do órgão é retirado, o que acontece não deixa de ser uma amputação e, portanto, o procedimento é irreversível. Por isso deve ser realizadas por cirurgiões bariátricos qualificados com experiência em cirurgia laparoscópica”, declara João Ettinger.
A equipe do profissional opera por mês cerca de 30 pessoas. “Mas esse número poderia ser bem maior se existisse maior celeridade com os pacientes do SUS, o que diminuiria a fila de espera”, ressalta. Porém, segundo Ettinger, a cirurgia é apenas uma parte do tratamento de combate a obesidade. “Temos uma equipe multidisciplinar, com nutricionistas e psicólogos. É um tratamento radical e necessita de um acompanhamento constantemente. Não pode ser banalizado. Tem que ser feito um acompanhamento anual”, destaca. De acordo com ele, em muitos casos, a pessoa após o processo cirúrgico acha que está bem e não volta ao Médico, “o que é um erro muito grande”, enfatiza.
**João Ettinger é médico cirurgião geral e do aparelho digestivo com atuação em cirurgia bariátrica, hérnias e cirurgia laparoscópica, com doutorado em Medicina Interna pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, professor adjunto de cirurgia da Escola Bahiana de Medicina, Coordenador do Fellowship de Cirurgia Bariátrica do Hospital São Rafael, e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica. Em 2010, tomou posse como Mestre (presidente) do Colégio Brasileiro de Cirurgiões – Regional Bahia.


Elena Martinez

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