quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Praça da Sé passa por intervenção arqueológica

A Praça da Sé, local onde em 1553 foi erguida a velha Sé da Bahia é um dos pontos mais visitados na cidade de Salvador, sua riqueza histórica não se restringe ao que os olhos dos turistas podem ver. Em 1998 o arqueólogo e também professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Carlos Etchevarne desenvolveu, um plano de intervenção arqueológica na praça, onde possibilitou a recuperação de objetos como adornos corporais, cachimbos, cerâmicas que identificam dados importantes sobre os antigos moradores da cidade, reconstruindo o cenário cultural.

A equipe do Museu de Arqueologia e Etnologia da UFBA (MAE/UFBA) foi convocada pela Prefeitura. O projeto tinha por objetivo a utilização da Praça da Sé como espaço público para o lazer, no qual as pessoas pudessem ter sempre presente, marcos evocativos da história no próprio ambiente.

Os especialistas da Prefeitura Municipal ficaram responsáveis pelas escavações que não necessariamente apareceram nas estruturas arquitetônicas, mas em lixeiros da cidade e nas residências, normalmente em jardins, fundos e quintais de casa e algumas vezes espaços abertos como praças e parques. Por exemplo, o Dique do Tororó, para o pesquisador "são setores urbanos que contêm preciosas informações históricas e devem ser valorizadas".

Etchevarne explica que esses elementos arqueológicos permitem-nos reconhecer que existe uma dinâmica com ritmos próprios que variam historicamente no processo de construção de uma cidade. Morador da cidade há 50 anos José Rodrigues, diz que a praça é o lugar central onde ocorreram e ocorrem às principais manifestações políticas e sociais, festas que marcaram e marcam a cultura da cidade entre programas locais de televisão.
Após a inauguração do terminal da Lapa, em 1982 a praça degradou-se. Dezessete anos com o projeto do arquiteto Assis Reis a praça ganha uma nova perspectiva de Belvedere, o monumento à demolição da Sé – a cruz caída, da autoria de Mario Cravo – o monumento a Tomé de Souza, a restauração do monumento a D. Pero Fernandes Sardinha, iluminações cênicas e sonorização. "A cidade como nos apresentam hoje, são efeitos de uma complexa construção, física e simbólica, de grupos humanos interagindo em diversos momentos", esclareceu Etchevarne. Segundo afirmação do grande mestre da geografia, o Professor Milton Santos "a paisagem é o resultado de uma acumulação de tempos".

Segundo constatou a pesquisa de Etchevarne durante as intervenções foram encontrados vestígios ósseos. A superposição de esqueletos em um mesmo local, o número excessivo de corpos, assim como as evidências de acumulo de ossos sem organização e até ósseo queimado, são provas claras do tratamento proporcionado aos restos daquelas pessoas dos estratos mais baixos da população. Além disso, seguiu-se uma escavação arqueológica às fundações da velha Sé, a qual resultou na criação de quatro sítios arqueológicos, cujo resgate de objetos e ossos está sendo conduzido pela equipe MAE/UFBA. Assim se compõe à história da praça mais requintada da cidade de Salvador.

Elena Martinez

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