quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Escola de cidadania

Manifestação da cultura popular aliada à educação ajuda a mudar vida de jovens.

Das ruas para as escolas, a arte da capoeira é ensinada por mestres e contramestres na forma de prática esportiva, que desenvolve em seus alunos qualidades como determinação, disciplina, autoconfiança e sociabilização. Com o objetivo de trazer essas atitudes para seus alunos, o Colégio Estadual Rotary, localizado no bairro de Itapuã, escolheu a capoeira como alicerce do projeto “Escola Aberta”, que pretende atuar na integração entre membros da comunidade e da escola. As aulas são ministradas pelo contramestre Tosta, que faz parte do grupo Camugerê, no qual participam 15 alunos e 12 membros da comunidade, que se reúnem todos os finais de semana no Colégio.

Com roupas brancas, cordões coloridos, músicas de tradições africanas e muito gingado, é iniciada a aula. Todos participam do jogo da capoeira, os movimentos do corpo que acompanham o ritmo do toque do berimbau fazem parte de um ritual que chama atenção das pessoas que assistem à distância, impressionadas com a dinâmica do grupo. A capoeira pode ser vista como uma arte, uma dança ou um jogo acrobático, que encanta e sensibiliza os capoeiristas e quem presencia a roda, todos com sorriso no rosto, cantando e batendo palmas para animar a aula.

“A capoeira é um todo. Nela são aplicados movimentos de dança e de luta, mas, acima de tudo, é uma filosofia de vida!”, relata Tosta, segurando o pandeiro. O grupo Camugerê, que depois de 10 anos de experiência em trabalhos com a capoeira, por motivos de crescimento e de acreditar em uma nova metodologia, fundaram em 15 de março de 2002 o Centro de Ensino Camugerê Capoeira (CECC), com sede na Rua das Acácias, nº 42. Hoje, o CECC desenvolve trabalhos em mais de 28 escolas das redes públicas e particulares, em condomínios e academias, estendendo seu trabalho para alguns municípios no interior do estado como: Camaçari, Itaquara e Jaguaquara.

O grupo Camugerê desenvolve também alguns projetos de cidadania e solidariedade, tendo parcerias com vários órgãos, como o Hemocentro da Bahia (HEMOBA), onde os capoeiristas ajudam todos os anos a incentivar pessoas a doarem sangue, na luta contra a demanda nos bancos de coleta. Outra parceria importante é a Secretaria Municipal de Articulação e Promoção da Cidadania (SEMAP), com a qual mestres e contramestres promovem palestras informativas para esclarecer as comunidades de pequeno poder aquisitivo sobre problemas sociais e de saúde (gravidez precoce, DST’s, entre outros).

A diretora do Rotary, Larissa Viana confia no projeto e afirma que “o trabalho de prevenção é fundamental nestes locais que tem pouco apoio governamental. A capoeira tem esse poder de afastar os meninos da criminalidade”, acreditando também no despertar do interesse ao resgate cultural, ao companheirismo e a cidadania de seus alunos. O aluno Diego Souza Teles, 17, participante há 2 anos do grupo, garante que melhorou seu condicionamento físico, além de perceber o quanto sua escola é importante para o avanço da comunidade de Itapuã.

A instituição está passando por dificuldades, pois o governo não tem estimulado o esporte na escola, e fica a cargo dos professores providenciar melhorias para as aulas. O professor de Educação Física Lucio Silva Souza relatou a falta de materiais para as práticas esportivas, como bolas, redes para as traves, além das rachaduras nas paredes da quadra poliesportiva e dos refletores queimados. Ele afirmou ainda que o professor de handball feminino, Carlos Alberto Rigaud, foi quem custeou a pintura da quadra.

A parceria entre o Colégio e o grupo CECC é a prova de que dedicação e solidariedade podem modificar a forma de viver de uma comunidade. Com gestos simples, utilizam atividades que fogem da rotina escolar, mas que levam ao aprendizado e a satisfação das pessoas que vivem no bairro. (maio de 2007)

Elena Martinez

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Sistema de Saúde Público e Privado: Sustentabilidade, Qualidade e Ética

Sistema de Saúde Público e Privado: Sustentabilidade, Qualidade e Ética é a temática da décima primeira edição do ADH'2008 a ser realizado no período de 15 a 17 de outubro no Hotel Pestana -Salão Gregório de Matos, promovido pela Faculdade São Camilo - Bahia.


O XI Congresso de Administração Hospitalar, II Congresso de Enfermagem e o II Simpósio de Biologia acontecem simultaneamente em horários distintos e possuem vasta programação científica. Com presenças de renomados professores doutores como o Padre Christian de Paul, Magnífico Reitor do Centro Universitário São Camilo São Paulo que na atividade de abertura às 14h, abordará sobre Bioética: células tronco – Evolução ou Subterfúgio?.


Para falar sobre a Fundação de direito privado no serviço público foi convidado o médico Jorge Solla, Secretário de Saúde do Estado da Bahia.


Nos eventos estão programadas várias mesas redondas sobre diferentes temas voltando o sistema de saúde público e privado. As inscrições poderão ser feitas no site, ou no stands itinerantes, localizados nos maiores hospitais da cidade.

Elena Martinez

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Atleta baiano de jiu-jitsu supera deficiência visual

Força, coragem e determinação são palavras que fazem parte do dia-a-dia de Valtonei Silva Chagas, 30 anos. Atleta há dois anos e meio, é um exemplo de superação por praticar Jiu-jitsu mesmo com deficiência visual, o que não impede que tenha conquistado títulos e vitórias.

Mas conhecido como Pit, devido a sua força de vontade, ele treina diariamente. Sua evolução no esporte fez com que se tornasse faixa roxa. “Não me sinto um deficiente físico, mas um eficiente” declara sorrindo.

Com 17 vitórias e uma derrota, todas as lutas que enfrentou foram com pessoas, sem deficiências, pois “além dele, existe apenas um americano com a mesma deficiência que pratica essa modalidade esportiva”, explica* Marcio Bittencourt, mas conhecido como Marcito, 31 anos, proprietário e professor da academia Fight Club, a qual Pit treina.

*A perda da visão

Aos oito anos de idade Pit perdeu a vissão, em decorrência de um glaucoma congênito. Segundo o Doutor Ralph Coehn “é uma enfermidade rara, apesar de se constituir na modalidade mais comum de glaucoma que se manifesta na infância” explica.
Não ter um membro do corpo ou a ausência de um dos órgãos do sentido, parece ser muito difícil para quem tem todos, mas para, Pit, é um desafio.“Às vezes o vejo andando sozinho em Brotas; é incrível”, comenta o estudante de jornalismo Luciano Genonadio. “Quando o levo para casa, ele me ensina certo o que caminho que tenho que fazer”, afirma Tirex, faixa roxa, amigo de Pit.

*O treino

A academia fica localizada em Brotas, na Ladeira do Pepino. “O trabalho voluntário que Marcito faz, já ajudou a tirar muitos jovens da vida improdutiva”, conta seu aluno, Marcelo Palombo, conhecido como Tirex.
O treino de Pit é diferenciado, porque necessita de mais tato, para entender o que o Sensei (mestre) ensina. “O jiu-jitsu é uma luta de muito contato, por isso posso expor mais a minha técnica” explica Pit.

Pit conta com detalhes como funciona seu processo de aprendizagem, “o mestre faz a posição de golpe que ele quer ensinar, em mim, então eu estou sentindo como o golpe está encaixado, a partir daí vou pegando no mestre, para sentir em que posição ele está. Depois, o mestre faz essa mesma posição em outra pessoa e eu vou tateado as duas pessoas, para poder entender como é o golpe. Nesse processo, o mestre vai corrigindo se está certo ou errado e detalhando o que não pode faltar na hora de aplicar o golpe perfeito”, detalha. “É um processo complicado de aprender, porque requer muita paciência, dedicação, determinação, disciplina e muitas outras qualidades”, comenta Marcelo Maia, faixa roxa, amigo de Pit.

Ele treina 2h, todos os dias, “é um exemplo para todos nós. Às vezes estou triste e chego aqui na academia achando que os meus problemas são os maiores do mundo, quando olho para Pit, e o vejo sorrindo no do-jô (tatame), pronto para combate, isso me dá mais forças”, declara Marcito. Segundo ele é um o prazer ensinar o esporte também conhecido como Arte-Suave, “desenvolvi uma didática própria de passar os golpes para Pit”, conta.
Em época de campeonato Pit diz dedicar mais tempo, chega a praticar duas aulas por dia, uma pela manhã e outra pela noite. “Ele já tem a chave da academia, falei que iria colocar um horário pela madrugada, porque ás vezes ele troca o dia pela noite”, afirma Marcito. “Seria bom se outras pessoas que possuem a mesma dificuldade praticassem o esporte, pois além de aumentar a auto-estima, adquire autoconfiança”, conclui o professor.

*O campeonato

O último campeonato que Pit lutou foi o Baiano de jiu-jitsu, realizado em agosto de 2007, em Salvador. No qual foi campeão e está liderando o ranking, pois na I etapa deste mesmo campeonato, não teve lutador em sua categoria, que é máster médio até 82 kg com kimono, mas o peso de Pit atual é 80 kg.
A força também vem da família, amigos e da sua esposa Cláudia, que o ajuda nos campeonatos, dando apoio e palavras de conforto para amenizar a adrenalina sentida antes das lutas. “Eu venho me inspirando muito neles, porque além de fazer o que eu gosto e ter uma vida melhor, eles me estimulam a viver disso e me profissionalizar”, conclui.
“Acho o jiu-jitsu da Bahia maravilhoso, mas, falta incentivo dos patrocinadores para que os atletas possam conquistar um mercado de trabalho através da luta e que não sejam vistas de forma marginalizada e violenta. O jiu-jitsu é um esporte que destaca qualidades positivas no ser humano”, conta o lutador. “O jiu-jitsu ensina, a todos os alunos que não devem brigar e sim procurar a paz”, completa.
Durante os treinos, o professor ensina que o limite de cada um começa, quando o do outro termina. “Ele diz que todos têm a mesma capacidade que você, portanto não desafie ninguém. O que você sabe fazer, o outro também pode”, acrescenta.

*O patrocínio

Pit contou que os apoios ao esporte em Salvador estão com déficit muito grande, “as empresas de pequeno, médio e grande porte deveriam incentivar mais os atletas, pagando as inscrições de campeonatos, patrocinando a suplementação alimentar, para que possamos lutar em outros Estados, divulgando através de nós suas empresas e o nosso trabalho, pois é o que fazemos de melhor, na verdade, seria uma troca”, completa ele.
Pit ressalta que é fundamental o apoio que o fundador da Federação Baiana de Jiu-Jitsu (FBJJ) – Ricardo Carvalho tem dado ao esporte na Bahia. “Eu admiro o que o nosso sensei maior, faz. O trabalho que ele está fazendo aqui na Bahia é muito bom, gratificante, mas, ainda é necessário mais apoio. Pequenas, médias e grandes empresas poderiam colaborar mais, para que nossos eventos fossem cada vez melhor”, disse Pit.
Ricardo Carvalho tem patrocinadores que facilitam os campeonatos Baianos acontecerem. “Isso faz com que muitas pessoas continuem treinando e lutando literalmente por mais espaço, para que o jiu-jitsu passe a ser um esporte olímpico como é com o Judô”, comenta Pit.

*Dificuldades

Existem também outras dificuldades enfrentas por Pit, a de locomoção, “os carros estacionados nas calçadas, postes sem proteção para deficientes, orelhões públicos sem proteção, buracos encobertos, grades que abrem para o lado de fora, tapas de esgotos e da embasa abertos, piquetes, enfim, muitos outros atrapalham nossa locomoção na cidade”, disse ele. Mas, não pontuou apenas os problemas enfrentados diariamente, deixou também uma sugestão, “que o prefeito, olhe para nossa cidade com mais carinho, para que a gente venha ter uma cidade melhor, com melhores condições de locomoção, pois com isso vamos parar de bater nosso rosto nos lugares, muitas vezes danificando a nossa face, tendo estrago maior”, termina Pit.

Elena Martinez

Resenha sobre o livro "Capitães de Areia"

AMADO, Jorge. Capitães da Areia; – 103ºed. – Rio de Janeiro: Record, 2001.

Para Jorge Amado, a Baia de Todos os Santos é o cenário da realidade social brasileira. Lá estão representados todos os problemas de sua época e de hoje, daí o caráter sempre atual e o sucesso internacional de suas obras. Um dos romances mais admirados por seus leitores, Capitães da Areia trata da problemática do menor abandonado e das suas conseqüências: a violência, a criminalidade e a prostituição.

O livro conta a historia de cerca de quarenta meninos de todos os matizes, entre nove e dezesseis anos, que habitavam as ruínas de um velho trapiche no cais do porto e que para conseguirem sua sobrevivência realizavam assaltos pela cidade de Salvador. Os seus principais personagens são: o Pedro Bala, um menino de quinze anos, loiro, com uma cicatriz no rosto que era o líder do grupo, uma espécie de pai para os garotos, pois ele era mais ativo, sabia planejar os roubos, trazia nos olhos e na voz a autoridade de chefe; o Professor que lê para os garotos que não sabiam; Gato que com seu jeito malandro acaba conquistando uma prostituta, Dalva; Sem-pernas, o garoto coxo que serve de espião se fingindo órfão desamparado (e numa das casas que vai é bem acolhido, mas trai a família, mesmo sem querer fazê-lo); João Grande, o “negro bom” como diz Pedro Bala; Querido-de-Deus, um capoeirista que é só amigo do grupo; e Pirulito, que tem grande fervor religioso.

Capitães da Areia é um poema em prosa recheado de poesia e temperado com ação, aventura, comédia e drama, este livro foi escrito em 1937, pouco depois da implantação do Estado Novo por Getúlio Vargas.

A obra vem precedida por uma seqüência de reportagens onde é apresentado aos leitores segundo a visão da sociedade, da polícia e da imprensa, como um grupo de menores abandonados que eram marginalizados, aterrorizavam com seus roubos Salvador.

Capitães da Areia é sem dúvida um documento valioso para a compreensão de uma época, na Bahia. Percebe-se que a sua elaboração resultou da vivência intensa do autor nas ruas, becos e ladeiras da cidade, onde mostra a desigualdade social e a discriminação entre as raças, numa sociedade que se negava a reconhecer que somente os ricos tinham privilégios.

A triste conclusão é que continuam a fazer parte da história da pátria, meninos novos dominados e excluídos, apesar de freqüentarem cada vez mais espaços públicos, não tem a oportunidade de ter uma educação de qualidade, uma família ou quaisquer encaminhamentos futuros. Vale a pena à leitura, pois é um livro que relata a realidade que passávamos e que continuamos a passar, atuando assim na nossa consciência social, política e econômica.


Elena Martinez